Analogia entre "O Auto da Barca do Inferno" e "O auto da Compadecida"

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Embora descritos em movimentos literários diferentes, os dois autos apresentam pontos em comum, como a presença marcante da religião.
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O Auto da Barca do Inferno é elaborado no período literário denominado Humanismo ou primeiro Renascimento (segunda época medieval) e o Auto da Compadecida foi escrito na 3a fase do período Modernista da Literatura Brasileira.
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Os dois autos apresentam o conflito entre o bem e o mal com ápice no momento do julgamento.
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O Auto da Barca do Inferno e o Auto da Compadecida não apontam presença de crença em vários deuses; mas no Auto da Compadecida há um momento de apelação à Nossa Sra e eis que surge a Compadecida.
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O Julgamento é o momento em que todos têm suas vidas expostas e são julgados em vida ou após a morte por seus atos cometido em vida.
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No Auto da Barca do Inferno e no Auto da Compadecida há uma flexibilidade nos julgamentos, pois nota-se que os personagens são sabiamente ouvidos e absolvidos, tendo até mesmo uma segunda chance de vida, como é o caso de João Grilo do Auto da Compadecida. Portanto, há semelhanças em ambos os autos: o conflito religioso; a crítica à sociedade (soberba, avareza...); a exaltação da religião e a falta da moral religiosa.
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1 - AUTO DA BARCA DO INFERNO
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1.1. BREVE RESUMO DA OBRA LITERÁRIA
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O período situado é chamado de humanismo gótico ou segunda época medieval ou primeiro renascimento.
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Os personagens desempenham um nítido papel de representação social, em todas as suas camadas (clero, nobreza, povo).
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Este Auto mostra as almas do mortos que estão à espera das embarcações que o levarão, conforme suas virtudes e vícios, para o céu ou inferno.
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O barqueiro do inferno e do céu esperam em uma barca os condenados e os agraciados, onde cada condutor se encontra na proa. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, mas apenas absolve e condena. O primeiro a chegar é um Fidalgo, em seguida um Onzeneiro (agiota), um Parvo (bobo), um Sapateiro, um Frade, uma Alcoviteira (cafetina/bruxa), um Judeu, Corregedor, Procurador, Enforcado, os Quatros Cavaleiros.
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Um a um eles se aproximavam do Diabo, carregando o que na vida lhe pesou (pecados). Perguntam para onde vai a barca. Quando ficam sabendo que a barca vai para o inferno ficam horrorizados e se dizem merecedores do céu. Aproxima-se então do Anjo que os condenam ao inferno por seus pecados. É uma espécie de juízo final.
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Dentre todos os tipos, apenas o Parvo e os Quatros Cavaleiros são levados pela barca do Anjo. Os demais são condenados e levados pela barca do Diabo.
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1.2. AS ALMAS
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Fidalgo – Condenação da frivolidade, da soberba e da tirania.
Onzeneiro – Condenação da usura, da ganância e da avareza.
Sapateiro – Condenação da má fé no comércio e da hipocrisia religiosa.
Parvo – Glorificação da modéstia e da humildade.
Frade – Condenação falso moralismo religioso.
Alcoviteira – Condenação da feitiçaria e da prostituição.
Judeu – Perseguição religioso.
Corregedor / Procurador – A condenação da burocracia corrupta e do uso do poder em proveito próprio.
Enforcado – Testa-de-ferro burocracia corrupta.
Os Quatros Cavaleiros – Glorificação do ideal das cruzadas e espírito do cristianismo puro.
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1.3.QUEM AS PUNE
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Esta obra é inclinada para o retrato social mais ou menos estereotipado com juízos e valores. Estes juízos de valores serão manipulados por dois personagens, o anjo e o diabo, os quais personificam as ideias abstratas do bem e do mal. Estas duas figuras são personagens alegóricos e funcionam como símbolo de uma ideologia cristã. A alegoria é feita através da observação da sociedade.
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1.4. A PUNIÇÃO
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De acordo com os critérios religiosos da época, o cristianismo deveria ser o motivo real de vida para todos. Qualquer um que fugisse destes critérios seria alvo da indignação. A visão era a de seguir os preceitos religiosos e doar-se de corpo e alma à religião, colocar-se à disposição dela e defendê-la até a morte. Não bastava apenas a reza ou a frequência nos bancos do templo, era preciso vigiar e rejeitar todo e qualquer desejo carnal. A obediência e a observância era motivo da glória eterna; ao contrário, deleitar-se ao prazer da carne tinha como consequência eterna a chama do inferno.
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2 - O AUTO DA COMPADECIDA
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2.1. BREVE RESUMO DA OBRA LITERÁRIA
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O Auto narra as aventuras de um sertanejo pobre e mentiroso chamado João Grilo e de seu fiel amigo Chicó.
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Tudo começa com a história do testamento do cachorro morto que envolve o Padre, o Bispo e o Sacristão, personagens que se concentram em torno da simonia e da cobiça. João Grilo e Chico, vendo a tristeza da Mulher do Padeiro em perder o seu amado cachorro, inventam, desta vez, a história do gato que descome dinheiro. Vende-o para ela e fazem seu lucro.
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Neste meio tempo acontece o assalto feito por Severino do Aracaju e o Cangaceiro. João Grilo inventa mais uma história “a da gaita que fecha o corpo e ressuscita”. Com esse episódio todos morem com exceção de Chicó.
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Do outro lado, acontece um estranho julgamento onde as almas são acusadas pelo Diabo que as quer levar para o inferno, mas são defendidas pela Compadecida, que é quem intercede por todas junto à Manuel (Cristo).
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No final, com exceção de João Grilo que ganha uma nova chance de voltar à Terra, Severino e o Cangaceiro que são perdoados por Cristo, todos os outros vão parar no purgatório.
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2.2. COMENTÁRIOS
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Analisando o comportamento dos personagens, nota-se que o autor teve a intenção clara de ressaltar a falta da moral católica traçando um paralelo entre o nordeste dos anos 30 e a Idade Média.
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2.3. AS ALMAS
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Bispo
Padre
Sacristão
Mulher
Padeiro
Severino
Cangaceiro
João Grilo
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2.4. QUEM AS PUNE
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A acusação vem do Encourado e do Demônio que julgam todas as almas aguardando por seu benefício. Mas a punição final quem dá é Manoel (Cristo).
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2.5. A PUNIÇÃO
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Punição (acusação): O Padre João, o Bispo e o Sacristão são acusados de simonia e cobiça; o Padeiro e a Mulher, de avareza e adultério, respectivamente; já o Severino e o Cangaceiro, por serem assassinos cruéis, mas que não conheciam o bem, são guiados ao céu; e finalmente João Grilo, por mentir e armar histórias, mas tem uma segunda chance de vida.
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2.6. A DEFESA DA COMPADECIDA
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O papel da Compadecida no Auto é de advogada das almas. Ela intercede por todas, principalmente por João Grilo, junto a Manuel.
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2.7. A ABSOLVIÇÃO
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João Grilo recebe tratamento diferenciado porque sua fé nas historias que cria, mesmo sem saber, vem da proteção que recebe da Compadecida. É essa convicção que o salva e que o faz ganhar uma nova oportunidade de Manuel, retornando à vida e à companhia de Chicó. Caberá a ele provar que essa oportunidade foi ou não bem aproveitada.
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Bibliografia

VICENTE, Gil. O Auto da Barca do Inferno, FTD , edição 1998
SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida, Rio de janeiro, Agir, 2001
Português Série Brasil
Faraco e Moura – Vol Único – Editora Ática, pág 91, 124 e 345

Língua Portuguesa
Hermínio Sargentim – Ensino Médio – Editora IBEP, pág 327

Português – De Olho no Mundo do Trabalho
Ernani Terra e Jose di Nichola – Ensino Médio – Editora Scipione, 1a Edição, 2006.

Português – Série Novo Ensino
MAIA – Ensino Médio – Editora Ática, 11a Edição, 2005

Biblioteca virtual
www.virtualbooks.com.br

Site da PUC
www.puc.br

Site Enciclopédico
www.wikipedia.com.br

Site Cultural
www.mundocultural.com.br
www.portaldasletras.com.br

Sítios de pesquisa como:
www.google.com.br

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