1) QUINHENTISMO: CONTEXTO HISTÓRICO
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Depois de 1500, o Brasil ficou praticamente isolado da política colonialista portuguesa . Nenhuma riqueza se oferecia aqui às necessidades mercantilistas da época. Só depois de 30 anos da descoberta é que a exploração começou a ser feita de forma sistemática e, assim mesmo, de maneira bastante lenta e gradativa.
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O primeiro produto que atraiu a atenção dos portugueses para a nova terra foi o pau-brasil, uma madeira da qual se extraía uma tinta vermelha que tinha razoável mercado na Europa. Para sua exploração, não movimentaram grande volume de capital, cuidado que a monarquia lusitana, sempre em estado de falência, precisava tomar. Nada de vilas ou cidades, apenas algumas fortificações precárias para proteção da costa. Esse quadro sofreria modificações profundas ao longo do século XVI.
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Sem o estabelecimento de uma vida social mais ou menos organizada, a vida cultural sofreria de escassez e descontinuidade. Assim, uma pergunta se impõe: o que aconteceu no Brasil entre 1500 e 1600 , no âmbito da arte literária? O Quinhentismo.
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Esse período, denominado de "Quinhentismo", apesar de não ter apresentado nenhum estilo literário articulado e desenvolvido, mostrou algumas manifestações que merecem consideração. Podemos destacar duas tendências literárias dentro do Quinhentismo brasileiro: a Literatura de Informação e a Literatura dos Jesuítas.
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No século XVI, a maioria das obras escritas no Brasil não foram feitas por brasileiros, mas sobre o Brasil por visitantes, chamada Literatura de Informação ou de Viagem. A esta literatura soma-se outra chamada Literatura Jesuítica, relato das incursões religiosas para catequização dos índios.
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A) Então o Quinhentismo divide-se em: 
·Lit. Informativa - conquista material para o governo português
·Lit. Jesuítica - conquista espiritual, num movimento resultante da Contra-Reforma
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·Lit. Informativa - conquista material para o governo português
·Lit. Jesuítica - conquista espiritual, num movimento resultante da Contra-Reforma
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B) Referências históricas
·capitalismo mercantil e grandes navegações
·auge do Renascimento
·ruptura na Igreja (Reforma, Contra-Reforma e Inquisição)
·colonização no BR a partir de 1530
·lit. jesuítica a partir de 1549
·capitalismo mercantil e grandes navegações
·auge do Renascimento
·ruptura na Igreja (Reforma, Contra-Reforma e Inquisição)
·colonização no BR a partir de 1530
·lit. jesuítica a partir de 1549
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2) LITERATURA DE INFORMAÇÃO, DE VIAGEM OU DOS CRONISTAS
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Durante o século XVI, sobretudo a partir da 2a. metade, as terras então recém-descobertas despertaram muito interesse nos europeus. Entre os comerciantes e militares, haviam aqueles que vinham para conhecer e dar notícias sobre essas novas terras, como o escrivão Pero Vaz de Caminha, que acompanhou a expedição de Pedro Álvares Cabral, em 1500.
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Os textos produzidos eram, de modo geral, ufanistas, exagerando as qualidades da terra, as possibilidades de negócios e a facilidade de enriquecimento. Alguns mais realistas deixavam transparecer as enormes dificuldades locais, como locomoção, transporte, comunicação e orientação.
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O envolvimento emocional dos autores com os aspectos sociais e humanos da nova terra era praticamente nulo. E nem podia ser diferente, uma vez que esses autores não tinham qualquer conhecimento sobre a cultura dos povos silvícolas. Parece ser inclusive exagerado considerar tais textos como produções literárias, mas a tradição crítica consagrou assim. Seguem alguns trechos da famosa Carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao Rei D. Manuel de Portugal , por ocasião da descoberta do Brasil.

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A carta de Caminha faz um relato dos dias passados na Terra de Vera Cruz (nome antigo do Brasil) em Porto Seguro, da primeira missa, dos índios que subiram a bordo das naus, dos costumes destes e da aparência deles (com uma certa obsessão por suas "vergonhas"), assim como fala do potencial da terra, tanto para a mineração (relata que não se achou ouro ou prata, mas que os nativos indicam sua existência), exploração biológica (a fauna e a flora) e humana, já que fala sempre em "salvar" os nativos, convertendo-os.
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"Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!"
(...)
"Viu um deles [índios] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isso tomávamos nós por assim o desejarmos"
(...)
"Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm nem entendem em nenhuma crença"
(...)
"Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza
(...)
"Viu um deles [índios] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isso tomávamos nós por assim o desejarmos"
(...)
"Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm nem entendem em nenhuma crença"
(...)
"Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza
em ela deve lançar."
(...)
"E neste dia, a hora de véspera, houvemos vista de terra, isto é principalmente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à Terra de Vera Cruz."
(...)
"A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto."
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"Os outros dois, que o capitão teve nas naus, a quem deu o que já dito é, nunca aqui mais apareceram, de que tiro ser gente bestial e de pouco saber e por isso assim esquivos. Eles, porém, com tudo, andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me aprece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão formosos, que não pode mais ser. E isto me fez presumir que não têm casas em moradas em que se acolham. E o ar , a que se criam, os faz tais . "
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Literatura de Informação – Resumo:
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-Destinava-se a informar os interessados sobre a "terra nova", sua flora, sua fauna, sua gente. A intenção dos viajantes não era fazer literatura, mas sim uma caracterização da terra. Através dessa literatura se tem idéia do assombro europeu diante de um mundo tropical, totalmente diferente e exótico.
-Além da descrição, os textos revelam as idéias dos portugueses em relação à nova terra e seus habitantes.
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Características
·textos descritivos em linguagem simples
·muitos substantivos seguidos de adjetivos
·uso exagerado de adjetivos empregados, quase sempre, no superlativo
·textos descritivos em linguagem simples
·muitos substantivos seguidos de adjetivos
·uso exagerado de adjetivos empregados, quase sempre, no superlativo
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Autores
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Pero Vaz Caminha
Autor da "certidão de nascimento" do BR, onde relatava ao rei de Portugal a "descoberta" da Terra de Vera Cruz (1500)
Autor da "certidão de nascimento" do BR, onde relatava ao rei de Portugal a "descoberta" da Terra de Vera Cruz (1500)
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Pero Lopes de Souza
Diário da navegação da armada que foi à terra do BR em 1500 (1530)
Diário da navegação da armada que foi à terra do BR em 1500 (1530)
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Pero Magalhães Gândavo
Tratado da terra do BR e A história da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam BR (1576)
Tratado da terra do BR e A história da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam BR (1576)
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Gabriel Soares de Sousa
Tratado descritivo do BR (1587)
Tratado descritivo do BR (1587)
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Ambrósio Fernandes Brandão
Diálogo das grandezas do BR (1618)
Diálogo das grandezas do BR (1618)
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Frei Vicente do Salvador
História do Brasil (1627)
História do Brasil (1627)
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Pe. Manuel da Nóbrega
Diálogo sobre a conversão dos gentios (1558)
Diálogo sobre a conversão dos gentios (1558)
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Pe. José de Anchieta
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3) A LITERATURA DOS JESUÍTAS
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A título de catequizar o "gentio" (índio, estrangeiro) e , mais tarde, à serviço da Contra-Reforma Católica, os jesuítas logo cedo se fizeram presentes em terras brasileiras. Marcaram essa presença não só pelo trabalho de aculturação indígena, mas também através da produção literária, constituída de poesias de fundamentação religiosa, intelectualmente despojadas, simples no vocabulário fácil e ingênuo.

A título de catequizar o "gentio" (índio, estrangeiro) e , mais tarde, à serviço da Contra-Reforma Católica, os jesuítas logo cedo se fizeram presentes em terras brasileiras. Marcaram essa presença não só pelo trabalho de aculturação indígena, mas também através da produção literária, constituída de poesias de fundamentação religiosa, intelectualmente despojadas, simples no vocabulário fácil e ingênuo.
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Também através do teatro, catequizador e por isso mesmo pedagógico, os jesuítas realizaram seu trabalho. As peças mesclam dogmas católicos com usos indígenas para que, gradativamente, verdades cristãs fossem sendo inseridas e assimiladas pelos índios. O autor mais importante dessa atividade é o Padre José de Anchieta. Além de autor dramático, foi também poeta e pesquisador da cultura indígena, chegando a escrever um dicionário da língua tupi-guarani. Em suas peças, Anchieta explorava o tema religioso, quase sempre opondo os demônios indígenas aos santos católicos que vinham salvá-las. José de Anchieta foi o iniciador do teatro brasileiro.
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O padre José de Anchieta (1534-1597) foi uma das grandes figuras do primeiro século de história do Brasil. Nascido nas Ilhas Canárias, domínio espanhol, tinha parentesco com Inácio de Loiola. De saúde frágil e dedicado aos estudos, Anchieta tornou-se jesuítas aos 17 anos de idade e naquele mesmo ano partiu para o Brasil. No Brasil Anchieta criou o teatro brasileiro: autos para a catequese dos índios. Também fez poesia em latim e escreveu tratados sobre o Brasil:
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"Teme a Deus, juiz tremendo,
que em má hora te socorra,
em Jesus tão só vivendo,
pois deu sua vida morrendo
pois deu sua vida morrendo
para que tua morte morra."
--Auto de São Lourenço, Pe José de Anchieta
--Auto de São Lourenço, Pe José de Anchieta
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"Não há cousa segura.
Tudo quanto se vê se vai passando. A vida não tem dura.
O bem se vai gastando.Toda criatura passa voando.
Em Deus, meu criador, está todo meu bem e esperança
meu gosto e meu amor e bem-aventurança.
Quem serve a tal Senhor não faz mudança.
O bem se vai gastando.Toda criatura passa voando.
Em Deus, meu criador, está todo meu bem e esperança
meu gosto e meu amor e bem-aventurança.
Quem serve a tal Senhor não faz mudança.
Contente assim, minha alma,
do doce amor de Deus toda ferida,
do doce amor de Deus toda ferida,
o mundo deixa em calma,
buscando a outra vida,
buscando a outra vida,
na qual deseja ser toda absorvida.
Do pé do sacro monte meus olhos levantando
ao alto cume,vi estar aberta a fonte
do verdadeiro lume,
Do pé do sacro monte meus olhos levantando
ao alto cume,vi estar aberta a fonte
do verdadeiro lume,
que as trevas do meu peito todas consume
Correm doces licores das grandes aberturas
do penedo.Levantam-se os errores,
levanta-se o degredo e tira-se a amargura
do fruto azedo!
--Em Deus, meu criador, José de Anchieta
Correm doces licores das grandes aberturas
do penedo.Levantam-se os errores,
levanta-se o degredo e tira-se a amargura
do fruto azedo!
--Em Deus, meu criador, José de Anchieta
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Literatura Jesuítica - Resumo
-Junto às expedições de reconhecimento e colonização, vinham ao BR os jesuítas, preocupados em expandir a fé católica e catequizar os índios. Eles escreveram principalmente a outros missionários sobre os costumes indígenas, sua língua, as dificuldades de catequese etc.
-Esta literatura compõe-se de poesias de devoção, teatro de caráter pedagógico e religioso, baseado em textos bíblicos e cartas que informavam o andamento dos trabalhos na Colônia.
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Autores
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José de Anchieta
-Papel de destaque na fundação de São Paulo e na catequese dos índios. Iniciou o teatro no BR e foi pesquisador do folclore e da língua indígena.
-Produção diversificada, sendo autor de poesias líricas e épicas, teatro, cartas, sermões e uma gramática do tupi-guarani.
-De sua obra destacam-se: Do Santíssimo Sacramento, A Santa Inês (poesias) e Na festa de São Lourenço, Auto da Pregação Universal (autos).
-Elaborava seus textos com uma linguagem simples, revelando acentuadas características de tradição medieval portuguesa.
-Suas poesias estão impregnadas de idéias religiosas e conceitos morais e pedagógicos. As peças de teatro lembram a tradição medieval de Gil Vicente e foram feitas para tornar vivos os valores e ideais cristãos. Nas peças, ele está sempre preocupado em caracterizar os extremos como Bem e Mal, Anjo e Diabo, característica pré-barroca.
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Outras Obras
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A História da Província Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil é o relato do viajante Pero de Magalhães Gândavo em sua viagem pelo BR. Tal qual no Tratado da Terra do Brasil, Gândavo descreve a terra, flora e a fauna. História, propriamente dita, há pouca em seu relato. Existe a narrativa do descobrimento e menções a vários ocorridos, como a expulsão dos franceses de São Sebastião (cidade do Rio de Janeiro hoje em dia) e a morte do filho de Mem de Sá, assim como fala-se dos costumes e das guerras de povos indígenas. É nesta parte que se destaca o forte preconceito do autor, que sustenta que os índios são maus e que os Portugueses deveriam salvá-los:
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“Não acho que preciso, mas vou lembrar a todos que os portugueses e espanhóis quando vieram para a cometeram tantas e tão horríveis atrocidades motivados por ganância cega que a antropofagia dos nativos parece tão horrível quanto esmagar uma formiga.”
(...)
"Esta planta é mui tenra e não muito alta, não tem ramos senão umas fôlhas que serão seis ou sete palmos de comprido. A fruita se chama banana. Parecem-se na feição com pepinos e criam-se em cachos. (...) Esta fruta é mui saborosa, e das boas, que há na terra: tem uma pele como de figo (ainda que mais dura) a qual lhe lançam fora quando a querem comer: mas faz dano à saúde e causa fevre a quem se demanda dela."
--História da Província Santa Cruz, Pero de Magalhães Gândavo
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"Há no Brasil grandíssimas matas e árvores agrestes, cedros, carvalhos, vinháticos, angelins e outras não conhecidas em Espanha, de madeiras fortíssimas para se poderem fazer delas fortíssimos galeões (...). Mas os índios naturais da terra as embarcações de que usam são canoas de um só pau, que lavram a fogo e a ferro (...)"
--História da Custória do Brasil, Frei Vicente do Salvador
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